PRIMITIVISMUS CONTEMPORANIUS | Resenha informativa
De 6 de Fevereiro a 5 de Março 2005

"Primitivo = Adj. Que apareceu em primeiro lugar. Relativo aos primeiros tempos. Primevo. Primordial. Que precedeu; que foi dos primeiros a aparecer...(Lat. primitivus)."
- Dic. de Cândido Figueiredo - 21ª Ed. - Bertrand
"Contemporâneo = Adj. Que é do mesmo tempo. Que é do nosso tempo...
(Lat. Contemporaneus)" - Dic. de Cândido Figueiredo - 21ª Ed. - Bertrand

Trata-se de uma mostra onde a arte contemporânea se relaciona com alguns dos pressupostos criativos daquilo que genericamente se pode designar de arte primitiva ou tribal ou ainda de arte comunitária de origem, no caso, Africana. Pretende-se, com a exposição, estimular uma reflexão, que consideramos premente, acerca dos fundamentos da criação artística contemporânea sobretudo quando aplicados à análise de obras produzidas em contexto não-ocidental. Permitirá aferir as múltiplas convergências entre distintas abordagens da arte?, Sairá o público convencido da validade do objecto produzido, para lá do estereótipo da assinatura e do reconhecimento da crítica especializada (que no caso concreto de África é, digamos assim, inexistente)?, e será verdadeiramente necessário o convencimento do público (e já agora, do mercado) para que se possa estar perante um processo de criação artística que, partindo de África (ou independentemente de partir de África) é Universal/intemporal? e a própria designação (Arte Primitiva, Tribal, Comunitária, Negra, Africana) fará sentido hoje, quando as comunidades se desagregaram com as guerras independentistas e as múltiplas sequelas que lhes sucederam, acrescendo ainda as múltiplas catástrofes (naturais, sociais, ambientais) que têm assolado a generalidade dos países daquele continente e contribuindo para a dispersão das populações?, mais: O conhecimento que agora possuímos sobre os fenómenos da cultura e da arte nesses territórios e os conceitos, de carácter marcadamente global, que foram sendo introduzidos para análise do objecto artístico, permitem-nos ainda reportar-nos com semelhantes designações quando nos reportamos a autores, muitos deles anónimos, oriundos de África? e deixarão esses autores de o ser por não seguirem a regra estabelecida no ocidente que dita a assinatura das peças produzidas?

Estas são apenas algumas das questões que entendemos ser necessário levantar e, mais ainda, buscar respostas para que, no essencial da nossa relação com o outro, exista de facto um direito já consignado em forma de letra, que urge aplicar, que é o do respeito pela diferença e o tratamento sem distinção entre seres humanos, neste caso mais fundamental porque, como é sabido, da arte derivam as sociedades.

Por todas essas questões e porque queremos desenvolvê-las tanto quanto for possível, pretendemos organizar um ciclo de conferências sobre o tema da exposição onde serão convidados à reflexão especialistas e amadores das distintas abordagens artísticas envolvidas. O programa será divulgado oportunamente.

Carlos Cabral Nunes | Comissário da Exposição


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